Oi geente! Ultimamente estamos vivendo nessa pandemia horrenda que parece não acabar nunca. Pensando nisso no contexto educacional, levando em conta a dificuldade de acesso à internet e acesso ao aparato tecnológico para inclusão no contexto escolar de forma remota, escrevemos um resumo expandido pensando no ensino remoto emergencial e as dificuldades de acesso.
 
ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: PERCURSOS E DIFICULDADES

 Amanda Santos Silva 1 
Caroline dos Santos Novais 2

 RESUMO: O surgimento do novo coronavírus e a subsequente pandemia nos obrigou ao isolamento social, provocou a suspensão das aulas presenciais e a aderência ao ensino remoto como alternativa a não supressão das atividades escolares. O presente texto discutirá as dificuldades decorrentes desse cenário na vida acadêmica dos estudantes que dependem dos auxílios disponibilizados pelas universidades para acesso e participação nas aulas em regime de ensino remoto. Palavras-chave: Educação; Políticas Públicas; Pandemia. 


INTRODUÇÃO

 Em março de 2020, as aulas presenciais em todas as modalidades da educação foram suspensas por conta da pandemia do coronavírus que se disseminou pelo mundo e mais seriamente no Brasil. Uma das grandes prejudicadas nesse cenário foi a educação, que teve que passar por uma série de adaptações para atender às demandas desse período, passando a operar no ensino remoto, o que afetou a vida tanto de alunos quanto de professores. Considerando que nem todos os estudantes possuem as condições necessárias para participar das aulas neste formato, principalmente pela falta de recursos, como equipamento tecnológico e acesso à internet, o presente texto tem por objetivo discutir e analisar as políticas públicas implementadas por três universidades, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade do Estado da Bahia (UNEB), para apoio ao ensino remoto emergencial, e as dificuldades de acesso dos alunos a estes recursos, analisando os editais e os requisitos necessários para inscrição. 

METODOLOGIA

 Amparados na metodologia qualitativa, adotamos como técnicas de pesquisa para esse trabalho a análise documental - análise dos editais de apoio às atividades remotas das  universidades e suas especificidades, além de pesquisas pertinentes ao ensino remoto e as dificuldades dos estudantes aos auxílios disponibilizados -, bem como o uso de questionários - aplicados a três estudantes do curso de Letras Vernáculas, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), escolhidos sob o critério de terem passado pelo processo de seleção e terem sido aprovados como bolsistas dos programas.


 DISCUSSÕES 

A nova realidade de isolamento e distanciamento social trazida pela pandemia, que culminou na suspensão das atividades de ensino presencial nas escolas, fez com que a forma de ensino fosse reorganizada para ensino remoto emergencial, cuja estrutura que ainda estava sendo aperfeiçoada, se tornasse a principal ferramenta para que os estudantes não tivessem o direito fundamental à educação restringido de forma total. O problema começa quando nem todos os estudantes têm as condições necessárias para frequentar as aulas de forma remota. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, os dados mostram que a internet chega a 1 em cada 4 casas no Brasil e o número de excluídos digitais chega a 45,9 milhões, o que significa que cerca de 25% da população não utiliza a rede. Entre os motivos para estarem “desconectados”, 4,1% alegaram não saber usar a rede, 17,5% declararam que o serviço ou o equipamento eletrônico necessário eram caros, e 4,5% disseram que não havia serviço de internet disponível nos locais que frequentavam.  A grande maioria das pessoas está inclusa no meio tecnológico, porém usar a tecnologia para algo como estudar não é algo que eles estavam acostumados a fazer. Também deve-se levar em conta o fator distrativo que a internet possui, como manchetes, redes sociais e afins, além de que esses alunos estavam acostumados ao ensino presencial e de repente tiveram que se adaptar a essa nova realidade, que apesar de necessária, não garante aprendizagem e os resultados dela só serão perceptíveis futuramente. O contexto da pandemia trouxe diversas dificuldades, tanto psicologicamente quanto fisicamente, a saúde colapsa, a doença ainda não tem perspectiva de fim, pois nem todos estão vacinados, e há certa pressão para o retorno às aulas, sendo que o ambiente ao redor é de total incerteza, gerando estresse, ansiedade e diversos questionamentos quanto ao futuro, principalmente da educação.   Diante desses desafios, que já eram imensos e se aprofundaram com a pandemia, algumas universidades disponibilizaram auxílios de inclusão digital para os alunos que comprovaram vulnerabilidade socioeconômica e declararam que não tinham acesso aos meios tecnológicos ou internet para participarem do ensino remoto. 
Muitos estudantes que se dividiam entre o trabalho e os estudos se viram em ainda mais dificuldades, e estudantes de áreas rurais também, ajudando a revelar as falhas do sistema educacional que não eram tão visíveis e o quanto ainda é necessário de investimento e estruturação da educação pública no Brasil. Pensando nisso, a UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a UFS (Universidade Federal de Sergipe) e a UNEB (Universidade do Estado da Bahia) abriram editais para concessão de bolsas e auxílios para inclusão digital no ensino remoto, oferecendo certa quantia para compra de equipamento tecnológico e ainda uma quantia para contratação do serviço de internet, tendo como público alvo os alunos matriculados regularmente nos semestres vigentes, cuja renda familiar per capita não ultrapasse um salário mínimo, tendo vulnerabilidade socioeconômica declarada. O dividendo seria unicamente utilizado para compra e melhoria do equipamento tecnológico, sendo que a UFS não permitia a compra de aparelho smartphone. As condições de acesso, inscrições e prestação de contas do serviço recebido segue de maneira igual ou semelhante nos três editais.
 Para manutenção da bolsa, os alunos não deveriam trancar ou se afastar do curso, ou seja, não deveria ter alteração do vínculo com a universidade, e o não cumprimento das exigências presentes no edital, como fazer a prestação de contas corretamente e envio de documentos obrigatórios, culminaria na devolução do recurso. 
O Brasil, por ter uma sociedade tão desigual e excludente, sobretudo pela diferença social entre ricos e pobres, enfrenta enormes dificuldades quando se fala em educação em tempos de pandemia. A necessidade da existência desses auxílios já é um fator exponencial dessa desigualdade e os editais visam reconhecer os discentes que se encontram em situação de vulnerabilidade tecnológica.
 Em uma matéria veiculada pelo site G1, da Rede Globo, alguns alunos das universidades da Bahia, incluindo a UESB e a UNEB, relataram as dificuldades enfrentadas para terem acesso a tais benefícios, isto porque muitos alegaram que mesmo após o início do semestre em ensino remoto os pagamentos dos auxílios ainda não haviam sido feitos. Com isso, alguns discentes não tinham como acessar as plataformas e se comunicarem com os professores, sendo necessário que alunos e professores entrassem em consenso para não serem prejudicados enquanto não conseguiam assistir às aulas remotamente. A burocratização nesse processo, levando em conta o período e todas as necessidades e dificuldades enfrentadas pelos estudantes, cria mais um fator estressante com relação à educação na pandemia. 
Em um questionário aplicado a 3 estudantes do curso de Letras Vernáculas, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Jequié, percebemos que de certa forma a burocracia para ter acesso aos auxílios dificultou um pouco o ingresso de muitos alunos. Quando perguntados sobre as maiores dificuldades no processo de inscrição, seleção e manutenção da bolsa, os alunos informaram sobre muitas dificuldades referentes ao acesso à internet e ao aparelho eletrônico para a realização da inscrição, sendo que eles estavam em busca de tais condições para poderem assistir às aulas. Também fizeram queixas referentes à quantidade de pré-requisitos exigidos no edital, que acabou por excluir muitos estudantes que não atenderam a todos os critérios para seleção, além de relatarem que todo o processo é cansativo pelo excesso de documentos exigidos. A consequência direta disso é que a bolsa foi concedida com o semestre já avançado e os alunos já haviam perdido diversas aulas iniciais. Os estudantes também informaram que, por não receberem nenhum resultado da inscrição que fizeram, acabavam realizando três inscrições seguidas à medida que os editais eram abertos. Quando se trata dessa exclusão digital (e social) no Brasil, que se traduz numa exclusão da educação, o professor da da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eucidio Pimenta Arruda, num artigo publicado pela revista EmRede, afirma que:
 se houvesse a emergência de uma política nacional de acesso à rede de banda larga móvel, com o envolvimento de grupos privados de telefonia móvel que já possuem políticas de disponibilização de pacotes de dados que não contabilizam o gasto de dados em determinados aplicativos, como Whatsapp e Facebook. Tal política pode ser ampliada para sites específicos determinados por secretarias de estado de Educação ou o Ministério da Educação, de maneira a permitir o amplo acesso a conteúdo educacional produzido.  (ARRUDA, 2020, p.270)

 

Nesta perspectiva, é possível observar a existência de planos de dados para celulares que com valores mensais em torno de R$ 20,00 (vinte reais), o que se configuraria em um investimento de baixo custo, de maneira a ser mantido, inclusive após o período emergencial da pandemia. Em termos absolutos, considerando a população acima de 10 anos que é estudante (escolas públicas e privadas), juntamente com professores, teríamos aproximadamente 40 milhões de brasileiros aptos a participar de tal política pública, a custos mensais de subsídio próximos de R$ 800 milhões de reais, se considerarmos o valor que é cobrado no varejo do público em geral. Esses valores podem ser negociados em larga escala. Sob uma ótica de investimento público para a melhoria das condições de acesso à informação e produção do conhecimento escolar. Diante do exposto, percebemos que esses auxílios não contemplam na totalidade os estudantes necessitados, e surgem como medida paliativa de um problema muito maior da educação brasileira que sempre sofreu com o descaso e a falta de investimento e estruturação, e revela um problema ainda maior com relação às classes sociais e a distribuição de riquezas no país. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Mesmo que visando a inclusão e a facilitação do acesso ao ensino, muitos alunos relataram encontrar uma certa dificuldade para ter acesso a tais benefícios. O excesso de burocracia e procedimentos a serem feitos via internet, em grande parte por conta do isolamento social, acabou por dificultar que os estudantes conseguissem a papelada necessária para o recebimento do auxílio. A educação brasileira também carece de investimento e estruturação desde os primórdios, pois enquanto outros países obtiveram certo êxito com o ensino remoto, o Brasil ainda engatinha em conseguir com que a maioria dos estudantes em idade escolar tenha os requisitos básicos para estudar nesse contexto, criando assim um processo extremamente burocrático, discriminatório e excludente para concessão de um auxílio que, em tese, visa facilitar o acesso dos alunos aos conteúdos escolares. Os critérios de seleção e manutenção da bolsa requerem uma série de exigências, que, no contexto da pandemia e do ensino remoto, parecem impossíveis aos estudantes. Nessa conjuntura, deve-se levar em conta a saúde emocional, o ambiente familiar e diversos outros fatores que possam influenciar na vida acadêmica, já que, no geral, todos tiveram que se habituar de alguma forma a essa realidade, indicando que esses critérios deveriam ser pensados e os processos deveriam ocorrer com mais suavidade, para não gerar estresses desnecessários e evitáveis.

 REFERÊNCIAS

 ARRUDA, Eucidio Pimenta. Educação Remota Emergencial: elementos para políticas públicas na educação brasileira em tempos de covid-19. Revista de Educação a Distância, v. 7, n. 1, 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) - Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), 2018. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Reitoria. Edital 155/2020. Concessão de auxílios inclusão digital para discentes dos cursos de graduação. Disponível em: http://www.uesb.br/wp-content/uploads/2020/10/Edital-155_2020.pdf Acesso: 07/06/2021 UESB – Campus de Jequié, jun. 2021. Universidade Federal de Sergipe. Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PROEST). Editais 001, 002 e 003/2020. Editais de auxílio na compra de equipamento e pagamento de serviço de internet. Disponível em: https://proest.ufs.br/conteudo/66965-plano-especial-de-inclusao-d para-o-periodo-letivo-remoto-editais-001-002-e-003-2021-proest. Acesso:07/06/2021 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PRAES). Editais 061/2020 e 007/2021. Concessão de Auxílio de Suporte Emergencial à Inclusão Digital para estudantes da UNEB. Disponível em: https://portal.uneb.br/praes/editais-abertos/ Acesso: 07/06/2021


1 Licencianda/o em Pedagogia - E-mail: amandassilva290@gmail.com 
2 Licencianda/o em Pedagogia - E-mail: carolnovais131@outlook.com 

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